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terça-feira, 30 de agosto de 2011

Relato do Parto de Déa


Salvador, 16 de agosto de 2011

Relato do Parto de Paulina, nascimento de Dea

Por Mary Galvão, parteira e enfermeira obstetra



Paulina (parturiente), Liliana (assist.perinatal),Mary (parteira)

A cada parto que assisto eu amplio minha compreensão a respeito da forma como as parteiras tradicionais se inserem neste cenário da assistência ao parto em comunidades isoladas, ancoradas no poder da fé.

O parto de Paulina, por exemplo, através do qual nos mantemos ainda conectadas, energeticamente, eu diria que sair dele com uma experiência novíssima, nada nunca encontrado em livros de obstetrícia e nem em relatos de colegas dessa área de partos normais. Aliás, naturais. Porque é assim que quero denominar os partos em que ajudo as mulheres e seus bebês... Naturais, sem ajuda de medicação, sem cortes ou qualquer tipo de intervenção, confiando no dom divino da mulher de parir e do bebê de nascer.

Geralmente antes de atender um parto, eu crio uma imagem ou uma realidade ainda não vivida para me acostumar com o caso e talvez para me preparar emocionalmente para a grande e nova vivência... E geralmente esta imagem é criada a partir da natureza da gestante, de sua forma de agir e de se relacionar com seu bebê. Durante as consultas de pré-natal e no tempo em que estamos juntas formando o vínculo, eu observo muito o comportamento e ouço atentamente suas falas... vou juntando tudinho e depois desenho uma cena de parto. Na maioria das vezes, a cena se materializa de acordo com minha criação visual e sensitiva.

No caso de Paulina, ao contrário, tudo saiu muito diferente e ainda assim foi tudo natural e lindo de se ver. Mais uma vez a experiência mostra o quanto a literatura é limitada. Os ensinamentos de Obstetrícia classificam e conceituam os trabalhos de parto como se todos fossem iguais. O que se vê, entretanto, na prática, é que cada e todo parto é completamente DIFERENTE.

Paulina completou 40 semanas na sexta-feira, 12 de agosto. Naquele dia fui fazer uma consulta domiciliar para ela e seu bebê. Naquele dia, procurei ficar mais tempo em sua casa, das 11 até as 17 horas. Conversamos muito, brincamos e almoçamos uma comidinha muito gostosa que seu companheiro Marcio preparou amorosamente para todos nós. Durante o tempo em que ele cozinhava, nós duas conversávamos sobre os ajustes finais do trabalho de parto. Aproveitamos para falar da necessidade do Plano de Parto (que havíamos lhe solicitado por e-mail no dia anterior) e também sobre questões de ordem operacional tais como o material e apoio necessário ao bom andamento do processo do parto. Durante aquele tempo calmo e numa fala muito sincera aproveitei o momento bastante oportuno para lhe informar sobre a importância da IG (idade gestacional) para a boa indicação para o parto domiciliar. Fui bastante clara quando informei que o parto domiciliar só deve ocorrer até 41 semanas e passados as 40 semanas e 5 dias seria bastante prudente retornar a Salvador para uma USG a fim de avaliar a quantidade de LA (líquido amniótico), bem como o grau de maturidade placentária.

Ela entendeu minha fala e demonstrou preocupação através de uma expressão facial típica de quem se assusta com a informação recebida. Mas eu, conscientemente, não voltei atrás e continuei pontuando questões que considero importantes nessa relação entre profissional e parturiente. Com clareza e responsabilidade fui listando cada tópico que a experiência me ensinou a respeitar neste processo tão importante para a gestante e tão vulnerável para a profissional.

Conclui minha visita domiciliar no final da tarde, depois de ter dormido durante quase 2 horas naquele friozinho de inverno gostoso. Na saída voltei a ressaltar a importância de seu trabalho de parto deflagrar o mais rápido possível. Assegurei-lhe que ficaria em Itaparica até que ela me chamasse em TP (trabalho de parto).

No sábado telefonei e ela avisou que havia dormido bem à noite, sem nenhuma alteração. Passei todo o dia conectada com Paulina e durante meus períodos de interiorização invoquei a Yemanjá e Nanã que lhe ajudassem a iniciar seu processo.

Após receber mensagem de Marcio, não quis mais dormir, neste momento começou meu plantão. Levantei tomei um banho, leguei para Liliana (04:30 horas) e em seguida fui para o templo de meditação. Às o dia clareou e eu resolvi que iria providenciar um carro para me levar até a Paulina. O fato de Paulina ser calma me levava a concluir que ela poderia ter um trabalho de parto pouco indolor, com dilatação abrupta e um trabalho de parto bem rápido como o que acompanhei no mês de julho (parto de Paulinha). Eu não gosto de chegar no atendimento quando o trabalho de parto já está na segunda fase final (mais de 7 cm de dilatação).

Prefiro acompanhar o processo desde o início, para que a parturiente receba os nossos cuidados. Por pensar assim acabo sempre chegando ao domicílio bem no início do TP, para observar e avaliar toda a evolução do processo.
Saí de casa as e fui direto para o Bom Despacho aguardar Liliana, que por problemas com o ferry-boat (para variar...) se atrasou e chegou as 6:30. Pegamos um táxi e às sete horas chegamos a casa de Paulina.
Fomos recebidas amorosamente por Márcio que ainda estava bem calminho.
Cumprimentamos Paulina que estava no primeiro quarto da casa, o escolhido por ela para ficar durante todo o processo. Este quartinho foi cuidadosamente ajeitado por eles para que pudesse acolher confortavelmente este período. Ali foi arrumado o nosso altar com todos os nossos santos, mestres, talismãs, objetos de valor sentimental e espiritual. Ali depositamos nossos propósitos e devotamos nossa fé. Naquele quarto também foi colocada uma rede pendurada no teto para servir de balanço, a piscina e o colchonete onde ela queria se acocorar para receber Dea.

Observei que Paulina estava calma, mas demonstrava um "certo incômodo" a cada 10 ou 15 minutos, expressado uma dor suportável. Ficamos sentadas no sofá da sala observando-a de longe. Não sugerimos ainda nenhum cuidado. Só na espreita... Às 8 horas sugerimos contar as contrações e ouvir o coração de Dea.

Desse modo, às 8 horas iniciamos o monitoramento do TP, com registro em prontuário da Dinâmica Uterina e da frequencia dos BCF (batimentos cardíacos fetais), bem como dos SV (sinais vitais) de Paulina. Encontramos contrações de média intensidade, rítmicas, com BCF de 150/minuto e bom ritmo.

Após nossa primeira avaliação, relaxamos, porque estimei que o trabalho de parto ainda estava na fase latente e que provavelmente o colo ainda estava na fase de apagamento.

Marcio nos convidou para um café gostoso com beiju e chapati e nos questionou sobre a possibilidade de uma caminhada na praia com Paulina. Eu achei a idéia ótima considerando o estágio do TP e a beleza do dia, ensolarado e muito iluminado. Convidei os presentes para fazer um trabalho espiritual no quartinho arrumado para Paulina permanecer durante o trabalho de parto. Ali sentamos, à frente do altar e iniciamos nossas orações para invocar a presença de Deus, dos Santos e arcanjos e convidá-los a integrar nosso grupo. Foi um momento importante, uma vez que este casal demonstra claramente uma forte conexão com o mundo da espiritualidade.

Após o café da manhã e das orações, saímos todos para a praia.


Mary e Paulina

Marcio ficou com Paulina aproveitando a maré baixa que favorece a formação de uma lagoa bem em frente a sua casa, Liliana ficou sentada nas pedras apreciando e fotografando as belas imagens daquele casal tão integrado ao processo de receber sua filha e eu fui caminhar para não perder meu hábito de me afastar para favorecer o vínculo com meu interior. Durante este trabalho prefiro me isolar para conectar-me com Yogananda e receber as mensagens que ele manda.

Lili nas pedras fotografando Marcio e Paulina na água

Retornamos da praia ao meio dia porque paulina reclamou de cansaço. Continuava sempre lhe observando, e as contrações permaneciam fracas.
Ao chegar à casa ela tomou banho de água doce no chuveirão do quintal e em seguida caminhou pelo quintal nua, como que procurando respostas que só as borboletas e bem-te-vis poderiam lhe dar. Algum tempo depois de caminhar em meio aquela vegetação exuberante ela deitou–se na rede do "oitão" e iniciou a fazer umas caretinhas “bem legais”... Aí, chamei Liliana e comentei: Vamos fazer uma segunda avaliação destas contrações? Lili saiu e voltou com a ficha e a caneta para iniciar o registro da dinâmica. Sentou-se ao lado dela e eu também fiquei bem próxima, lhe dando atenção especial.

Lili contando as contrações 1,2,3..

Por uma hora contamos dez contrações de trinta segundos. BCF 148/minuto, rítmicos. Nada de tampão mucoso, por enquanto. Às14 horas resolvemos deixá-la a sós com Marcio, para dar mais um momento de privacidade entre os dois. Saímos atrás de uma baiana para satisfazer nosso desejo de comer abará ou acarajé.
Retornamos uma hora depois e encontramos Paulina na mesma posição na rede. Agora com um prato de macarrão na mão, ela, sorrindo, olhou para nós e comentou: eu adoro macarrão! Ótimo, então coma teu macarrão! Ela não comeu tudo. Largou um pouco no prato depois de ter uma contração dolorosa, assim expressava seu rosto. Depois do almoço, Marcio muito animado comentou conosco: vamos fazer uma fogueira? Eu achei a idéia ótima, já que amo o fogo nestas ocasiões de ritos e mitos. Ele saiu e retornou com muita madeira que conseguiu na praia. Demonstrava disposição e alegria e enquanto ele arrumava a fogueira sua companheira lhe olhava com admiração. Nós registramos o momento com um comentário de valorização pelo seu belo trabalho de provedor: "Isso é que é um homem"!

Entre 16 e 18 horas todos nós nos recolhemos dentro da casa. Eu e Liliana fomos ler um livro. Eles também foram para o quarto. Sugerimos a Marcio oferecer uma massagem para Paulina e ele adorou a idéia, mas antes queria tomar um banho porque estava muito suado pelo árduo trabalho da manhã: lavou, limpou, fez almoço e fez fogueira. Estava exausto, coitado!

Enquanto Paulina estava em seu quarto recebendo a massagem de seu companheiro, eu aproveitei para cuidar um pouquinho de Liliana, que no oitavo mês de gestação mostrava muito cansaço e queixava-se de sentir-se exausta! Fiz massagem em seus pés e em seguida nas costas. Ah meu Deus, quantos nódulos na região cervical de Liliana!

Em seguida, percebendo que a Liliana continuava com sua mente agitada, eu lhe apliquei um toque de cranio-sacral, foi só assim que ela relaxou um pouquinho e cochilou por uns 30 minutos.

Por volta das 18:30, Paulina saiu de seu quarto registrando que a massagem tinha sido ótima. Foi direto para seu quartinho “aconchego” e se pendurou na rede do teto. Ali, naquela posição de pé e com os braços estendidos para o alto, ela se movia de um lado para outro buscando uma posição confortável quando as contrações apareciam.

Observamos que ela apresentava outro comportamento. Agora, mais incomodada, expressava dor! Contamos de novo as contrações e comprovamos que estas continuavam a cada 5 minutos, mas a duração agora era maior, 45 ou 50 segundos cada com uma intensidade média.

Por volta das 19:30, sugerimos uma avaliação dos BCF e talvez um exame de toque. Questionamos o que ela pensava de fazer avaliação do colo uterino naquele momento. Ela prontamente concordou e nós então iniciamos em seu quarto a avaliação desses dados.

A bebê estava ótima (146 batimentos cardíacos por minuto, ritmicos). O colo uterino estava totalmente apagado com dilatação em 8 cm. Tudo normal, fisiologicamente.

Paulina voltou para seu quartinho preferido e lá ficou até umas 20:30, se movendo e demonstrando dor e cansaço. Estimamos que este parto deveria ocorrer em 2 horas e por isso sugerimos um pouco de relaxamento na piscina com os chás das ervas! Para lhe dar mais suporte para o período expulsivo que logo iria começar. Ela adorou a idéia e ali começamos o processo trabalhoso de transportar água da cozinha para o quarto, local onde estava sua piscina. Paulina permaneceu na piscina por 2 horas, recebendo muitas massagens na região sacral e compressas quentes na região perineal. Nesse período controlamos os BCF a cada 30 minutos, somente para tranqüilizar a Mamãe, já que sabíamos que tudo corria bem. O coraçãozinho sempre forte e rítmico da bebê deixava Paulina feliz!

Queríamos sugerir a ela sair da água uma hora depois, mas ela demonstrava tanto conforto ali dentro, que nós fomos deixando o tempo passar. Nesse período (de 2 horas) nós não parávamos de repor água quente, trocando a cada 20 minutos a água fria por uma mais quentinha... sempre repondo as ervas relaxantes (alfazema, erva cidreira, mentraste) da grande panela que estava no fogo. Nesse momento, Marcio também se afastou por alguns minutos para acender a fogueira, porque acreditávamos que o parto aconteceria rapidinho. Apareceu um sentimento muito forte no ambiente, um misto de sagrado com gosto de nascimento! Experimentamos uma energia de celebração!

Às 23 horas sugerimos que ela saísse da água porque as contrações não aumentavam em número e nem em intensidade. Decidimos que ela deveria sair da água para ajudar o útero a retomar seu trabalho.

Por volta de ela nos questionou: o que está acontecendo comigo? Estou cansada! Eu então lhe disse que seu útero estava trabalhando, mas que estava tudo bem com ele e com a bebê. Sugeri ouvirmos seu coraçãozinho de novo. Os BCF continuavam rítmicos, mas sua localização era muito baixa, na região púbica.

Aí, aquecemos Paulina. Calçamos meias, cobrimos seu corpo com cobertores e ajeitamos uma posição confortável ali mesmo no colchonete. Neste período fomos secar o quartinho que estava todo alagado. Sentimos falta de Marcio e fomos procurá-lo, adivinhem onde estava o papai? Dormindo profundamente no quarto do casal. Cansado, coitado. De trabalhar, de esperar e de celebrar tantas emoções que este processo aciona em nossos corações! Dormiu por mais ou menos duas horas e meia, merecidamente papai!
Permaneci ali ao lado de Paulina.


Mary oferecendo suporte emocional a parturiente

No período entre 23 horas e da manhã, por mais ou menos 3 horas a dinâmica uterina de Paulina era a mesma do início da noite, contração curta de mais ou menos 40 segundos a cada 6 ou 7 minutos. Ela demonstrava cansaço, exaustão e me questionava o motivo da demora. Eu sempre lhe afirmava: está tudo indo bem, vamos esperar a hora em que a neném virá para seu colo. Auscultava de novo e estava lá: Tum-tum. Ouvir .o coração de Dea era a única coisa que consolava Paulina. Ela se fortalecia quando ouvia sua neném ali forte e firme num trabalho que era só das duas, numa parceria e cumplicidade que somente elas conseguiriam vencer!

Puxei um colchãozinho do outro quarto, onde Liliana descansava um pouquinho e me deitei ao lado de Paulina para massagear sua região sacra durante as contrações. Fiz chá de semente de quiabo e misturei com melaço de cana.

Quando eu estava na cozinha esquentando a água para o chá, Paulina me chamou: Mary", corre até o quarto! Ela me apontou a região púbica, dizendo é a bolsa, acho que furou! Examinei e vi o liquido escorrendo em pequena quantidade, mas claro, com rajos de sangue. Fiquei muito feliz e festejei. Ah, que delícia, o LA está limpinho, demonstrando que a bebê está em boas condições, suportando este TP tão prolongado! Fui lá dentro buscar o chá e dei para ela, dizendo: agora vamos nessa, que vai nascer. Ela bebeu tudo, cheia de fé e de vontade de colaborar no processo!

Continuávamos, madrugada adentro. Juntas, cansadas, mas firmes. Aguardando, respirando, cochilando entre o intervalo das contrações, que seguiam rítmicas e curtas, insuficientes para proceder a insinuação.

Não sei se a mistura funcionou, mas o fato é que a partir desta bebeção, as contrações aumentaram a intensidade e a freqüência (agora de 4/4 min), e a apresentação (cabeça fetal desceu até o terceiro plano, estava visível a olho nu). Neste momento, Paulina sentiu que estava mesmo chegando a hora, porque as dores ficaram muito fortes e ela começou então a gritar. Alto e fortemente, a cada contração. Marcio acordou, assim como Liliana e os vizinhos. Eles vieram prestar solidariedade e oferecer socorro.

Liliana foi lá fora acalmar a vizinha do lado e informar do que se tratava: uma neném estava nascendo! Ouvi uma fala feminina, mansa, perguntar: aí mesmo? E Liliana respondendo: é aqui mesmo que vai nascer, mas está tudo bem com ela, tem uma enfermeira obstetra ajudando.

Começamos literalmente a observar o processo em fase de expulsão, a cada contração a cabeça descia mais e mais. Paulina se tocou para certificar-se de que a bebê já estava ali, quase nascendo. Depois de umas dez contrações fortes, de 4/4 minutos, o períneo foi se afinando e se distendendo para ampliar sua abertura e permitir a passagem da cabecinha de Andrea, que calma e serenamente despontou neste planeta, sob o céu ainda iluminado pela lua cheia às 3:35 da madrugada. Nasce uma menina-estrela linda, rosada, chorando e emocionando os espectadores deste ritual divinamente sagrado!
O pai, ali atrás, sustentando a mãe acocorada, entrou em estado de graça, não acreditava no que estava vendo com seus próprios olhos... Pai e mãe admiravam a cena em total celebração enquanto Liliana se derretia em lágrimas. Quanto a mim, não podia nunca entregar os pontos, pois preciso estar ligada, ligadona, para cuidar de cada detalhe importante. Proteger o períneo e o meato urinário, controlar a velocidade do pólo cefálico, receber a bebê, avaliar se não tem circular de cordão, limpar a boquinha, secar rapidamente a cabecinha, entregar para a mãe, ajeitar a posição da mãe, atender as demandas práticas. TUDO A UM SÓ TEMPO! Estar atenta a tudo em volta.

Nesse momento, me joguei aos pés do mestre, dos orixás, dos anjos e arcanjos que me ajudaram e que me atenderam, me fortalecendo nos momentos de insegurança, de sono, de dúvida. Agradeço mil vezes por escolher estar neste cenário de fé e de mistérios. Este é o papel da parteira: se emocionar sim, se entregar JAMAIS!

Dea foi secada e aquecida, assim como Paulina. Nasceu muito bem, com Apgar 9 e 10. Marcio, muito emocionado, cortou o cordão umbilical, depois que ele cessou a pulsação, cumprindo o seu papel de separar parcialmente a ligação mãe-bebê, própria do período de gestação. Após a dequitação da placenta, às 4:15 da manhã. Vestimos Dea e transferimos mãe e filha para o quarto do casal, onde a cama já estava arrumada com lençóis limpos. A luz suave de uma luminária estava acesa, prestando o aconchego necessário ao momento. Devido ao frio e ao cansaço de todos, preferimos deixar os exames complementares de Dea para quando amanhecesse o dia. Paulina foi também vestida com um roupão atoalhado e vestiu uma fralda descartável. Apliquei no seu canal vaginal um emplastro de babosa e uma compressa gelada na vulva, para aliviar o edema da região. Liliana continuava prestando os cuidados à mãe e ao bebê recém-nascido, que já tentava abocanhar o seio com muita perseverança.

Por volta das cinco da manhã, Marcio saiu para fotografar o dia que nascia junto com a sua primeira filha: 15 de agosto de 2011. Eu e Liliana nos recolhemos ao quarto que nos foi destinado, para um descanso merecido, enquanto mãe e filha também descansavam do longo e árduo trabalho de parto.

Às sete e trinta da manhã levantamos da cama. Antes disso, Liliana levantou algumas vezes para observar e auxiliar mãe e filha que estavam alternando pequenos cochilos com mamadas. Fomos tomar o café da manhã, pois a família dormia profundamente. Quando retornamos, encontramos todos acordados, Paulina tomando o farto café da manhã preparado pelo seu companheiro, enquanto Dea estava acordada e esperta, deitadinha na cama.
Lili apoiando Paulina
Preparamos o material para o primeiro banho de Dea. Antes do banho, porém, iniciamos o exame físico da recém-nascida:

-Peso: 3,500kg;
-Estatura: 47cm;
-Perímetro cefálico: 33cm;
-Perímetro torácico: 35cm;
-Perímetro abdominal: 35cm;
-Cordão umbilical contendo duas artérias e uma veia;
-Reflexos neurológicos presentes.

Em seguida, iniciamos o banho de Dea. Junto aos pais, no quarto do casal, procedemos às orientações sobre os cuidados de higiene do bebê e do curativo do coto umbilical.

Depois, foi a vez de cuidarmos de Paulina, que caminhou sem dificuldades até o banheiro. Enquanto isso, Liliana segurava e embalava Dea, já impaciente pela ausência da mãe. Paulina foi banhada e lavou os cabelos. Retornou ao quarto, onde terminou de se enxugar. Foi examinada por mim, eu e Liliana observamos que o edema da vulva, de horas atrás, havia desaparecido. Paulina também não apresentou nenhuma laceração de períneo. O sangramento pós-parto apresentava-se moderado, sem anomalias. O útero apresentava-se em franca involução, típica do pós-parto imediato.

Paulina vestiu um vestido azul, penteou os cabelos e voltou para a cama amamentando a sua filhinha, Dea.

Depois que mãe e filha estavam acomodadas, eu, Liliana e Marcio nos dirigimos para o quintal. Iniciamos o ritual de agradecimento aos ancestrais da família, presentes em espírito na placenta. Neste ritual, fizemos orações em agradecimento à placenta, por ter nutrido Dea, e feito a comunicação perfeita entre mãe e filha, sustentando a gestação e o nascimento. Neste momento, também revisei a placenta, conferindo, através das suas estruturas anatômicas, a normalidade da gestação e da recém-nascida. Finalizamos o ritual, enterrando a placenta em um vaso, onde foi plantada uma muda de tangerina. Esta planta simbolizará o crescimento de Dea. O solo contido no vaso será o local de retorno da placenta à natureza.

Enfim, após todos estarem cuidados, eu e Liliana retornamos a nossas casas. Imensamente agradecidas pelo privilégio de participar do surgimento de uma nova família, através do nascimento de Dea.

Dois dias após o parto a adrenalina ainda está concentrada em meu sangue, mas eu estou muito feliz!








Parto Domiciliar - Primeiro post do blog

Boa tarde a todos.
Meu nome é Lara Souto Santana, moro em São Paulo e acabo de criar este blog para minha madrinha Mary Galvão, que mora em Salvador e é parteira. Acompanho meio de longe o trabalho dela, mas acho importante que ela possa compartilhar com todos suas experiências.
Desejo que este blog seja um lugar onde todos possam conhecer e se encantar pela magia que é o parto natural.
Um beijo e sucesso para o blog.

Uma foto nossa para vocês conhecerem a gente!