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segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O Nascimento de Pedro



Por Paula Araujo

Naquela manhã Acordei e sentia uma disposição enorme, era a primeira visita domiciliar que receberia de Mary e Paula. Chamei meu marido para ir ao mercado comprar algumas coisas para a casa e lembro que o dono do mercado ainda brincou que estava demorando e eu lhe disse: Não está não, até o final do mês ele chega. Voltei para casa e tudo correu como de costume até depois que encaminhei meu filho Lucas para a escola, a partir daí comecei a perceber uma dores bem incomodas, era o inicio do trabalho de parto. Continuei meu afazeres, ainda preparei um bolo para as meninas. Quando fui ao banheiro percebi um pouco do“tampão” comentei com Dil (meu marido) que me recomendou –Elas estão vindo aí, elas examinarão. Ok ! Tomei um banho coloquei um vestidinho leve – branco, e me pus a esperar.
Como que de repente me dirigi à sacada, quando as avistei chegando, acenei sorrido confortada, aliviada e segura. Como vc está? Perguntou Mary. Acho que ele chega hoje! Respondi informado que já estava em trabalho de parto. Subimos e quando estávamos no sofá Mary me perguntou –você sempre sua assim? Eu estava suando bastante afinal meu anjinho já iniciara sua aventura no trajeto para este mundo aqui fora. Paula logo ficou preocupada pois não haviam trazido nada, então assim que meu marido chegou Mary pediu que ele fosse ao consultório pegar os materiais para o parto.
Enquanto meu bem estava fora, Mary e eu aproveitamos para conversar um pouco, estabeleceu-se então um vinculo de confiança que não havíamos tido tempo antes para desenvolver, o trabalho de parto evoluía bem, as contrações aumentam a cada período que passava. Estava tranquila, preparada, sabia o que me esperava e tudo que queria era chegar ao momento de ter meu anjinho nos braços.
Neste intervalo de tempo, minha mãe chegou em minha casa, sem saber que eu já estava em trabalho de parto - uma escolha nossa pois não queria nenhum tipo de tensão e inevitavelmente uma mãe fica tensa e preocupada quando chega a hora de sua filha dar à luz, foi engraçado pois Mary e eu conseguimos enrolar ela e ela foi embora – Mãe, Mary vai ficar aqui comigo porque estou sentindo um pouco de cólica, pode ir tranquila, se houver alguma coisa te aviso, disse eu. Mal sabia ela que horas após me veria com seu netinho nos braços.
Quando meu bem chegou, pronto, agora sim podia me entregar completamente, disse a ele –Não sai mais, fica aqui comigo! Ele me acariciou tão carinhosamente, sua presença era muito fortificante. Naquele momento sentir vontade de me ajoelhar no chão da sala, então o fiz, e ele ajoelhou-se junto comigo, meu companheiro, meu cúmplice!
Paula veio até mim me perguntou com sua voz suave se eu queria massagem, eu disse que sim e fomos para o meu quarto. Neste momento meu anjo maior – Lucas, chegou trazido pela avó que o havia pegado na escola, então o chamei no quarto e lhe expliquei que seu irmãozinho iria chegar.
Depois de alguns minutos, enquanto estava de joelhos na cama procurando posições que me deixassem confortáveis durante as contrações, minha bolsa estourou. Pedro estava cada vez mais perto!
A partir de então me despi e me enrolei num lençol orientada por Mary, para que pudesse ficar mais á vontade, ela me ofereceu a sopa que preparou com os legumes que cortara enquanto conversávamos mais cedo. Estava boa, mas para mim bastou apenas algumas colheradas, meu corpo não queria mais.
O tempo todo durante o TP procurei me concentrar em mim e no que meu corpo solicitava, sentia a minha respiração profundamente a cada contração,coisa que aprendi durante minhas aulas de yôga pré-natal, embora tenha praticado apenas um mês, Anne - a professora de yôga, me ajudou bastante na preparação para este momento.
Me dirigi para a segunda sala e pedi que apagassem as luzes da casa e acendessem as velas. Me perguntaram uma primeira vez se queria ir para a água, ainda não era a hora, eu sabia que não. Continuei mais um pouco ali, ajoelhada, debruçada no sofá atendendo ás necessidades do meu corpo naquele momento, que passava por adaptação tamanha para poder dar passagem para o meu neném, naquele instante ali estava confortável. Dil segurava minha mão todo o tempo. Mary e Paula vinham de tempos em tempos me confortar, saber se queria algo...
Quando as contrações passaram para um estagio mais elevado eu pedi para ir para água e fui conduzida ao banheiro onde Mary havia preparado um banho quente á luz de velas na enorme bacia que Dil tanto “rodou para encontrar”no dia anterior, “tadinho” rsrsrs! Estava tudo maravilhoso, as meninas respeitavam meus desejos e meu espaço, a presença delas me passava tanta segurança, me orientavam sem invadir nem intervir no meu momento.
Quando já estava no banho, tive um dos momentos mais lindos o meu parto, foi quando meu anjo maior, meu filho Lucas entrou no banheiro e me disse: Boa Sorte Mãe! E me deu um beijo. Logo em seguida Paula o levou para o seu quartinho onde o distraiu, pois eu já estava no período expulsivo e gemia de dor no banheiro. O carinho e a atenção dela foram muito importantes para ele naquele momento.
Durante o período no banheiro, lembro que na primeira contração Mary me disse: Pode gritar, você já chegou no expulsivo e não chorou?! Isso me deixou tão á vontade para exalar minhas sensações, então me entreguei completamente, esqueci do mundo e gritei, gemi, e isso parecia funcionar como uma válvula de escape para dor. Estava tão entregue que atravessei este período sem grande sofrimento, ainda consegui fazer pose para as fotos entre uma contração e outra, e até brinquei – É nesta hora que agente começa a querer uma cesariana, rsrsrs! Dil e Paula, que ora deixava Lucas para me ver riram bastante, Mary neste momento havia ido buscar mais água quente, ela dizia a todo momento: não pode deixar esse banho esfriar! Até que tive a sensação de algo escorregar dentro de mim foi quando disse maravilhada – Ele está chegando, o bebê tá chegando! Pus a mão em minha vulva e percebi que ele estava perto mesmo.
Fui para o quarto debruçada sobre os ombros de Dil, praticamente carregada por ele, lá Mary e Paula já haviam preparado um cantinho todo especial para nós, toda a casa estava sob a luz de velas. Primeiramente fiquei de quatro no chão, meu amor me perguntou - Você quer alguma coisa? E eu respondi – Quero, o meu filho! Então comecei a chamá-lo - Vem Pedro ! Vem para a mamãe meu filho!
Quando Pedro coroou Mary me orientou a ficar de cócoras, e nos disse: Vamos receber esta criança com tranquilidade para que ela venha em paz! Paula trouxe Lucas e todos juntos assistimos à chegada de meu anjinho! Ah... quão sublime experiência, ao receber meu filho nos braços eu entrei em outra dimensão , era um explosão de sensações que me deixaram fora de órbita por alguns minutos, aquela quenturinha do meu bebê junto ao meu corpo desta vez pele com pele, nossa, o imaginário deu espaço para o real. Mantive Pedro ali grudado comigo enquanto convidava Lucas a vir se juntar a nós, e ficamos ali por alguns segundos, nós quatro juntinhos. Compartilhamos toda a felicidade e amor que sentimos naquele momento.
Ter o meu filho em casa foi sem dúvidas uma das experiências mais emocionantes da minha vida e sem dúvida me modificou como mãe, esposa e mulher, agora me sinto plena. Dei à luz o meu filho com prazer, num ambiente cheio de amor, carinho e principalmente respeito à este momento tão especial e divino na vida de uma mulher.
Obrigada a minha Nossa Senhora das Graças, pela força emanada em mim, obrigada Mary por ter me assistido e me proporcionado uma das experiencias mais lindas da minha vida, obrigada a Paula - Mary não mentiu quando disse que ela seria a parte doce da história, tão cuidadosa...E por fim agradeço ao meu amor, meu amigo e meu cúmplice por ter desde o início me acompanhado e me apoiado nesta ideia que se tornou uma realidade tão maravilhosa.

sábado, 17 de dezembro de 2011

Oficina de Natal para Gestantes

As cantigas de roda e de ninar foram utilizadas como estratégia de fortalecimento do vínculo mãe-bebê.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

O relato do nascimento do Guido

Olá,
Bom, todos sabem que moro em São Paulo e participo do blog um pouquinho de longe.
Hoje trago o relato do parto da Fafi, com quem faço especialização. O parto dela foi feito por outra equipe, mas é rico em detalhes interessantes para quem se interessa pelo assunto.
Para conhecer a história do nascimento do Guido, é só clicar AQUI.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Dona do Corpo - Depoimento de Verônica

Relato do Nascimento de Nina



Por Jaiana Meneses

Acho que minha maior dificuldade pra escrever este relato foi a “simplicidade” como tudo transcorreu. Mas escrevo não somente por uma memória nossa de família, como também pelo fato de ser absolutamente incomum nos dias de hoje, em grandes centros urbanos, receber um bebê neste mundo com tanto amor e da forma mais natural.
Já estávamos celebrando a chegada de Nina dias antes de ela nascer! Mary, a parteira, esteve em nossa casa para a visita dos pródomos e fez um festival de pizza e beijus maravilhosos. Um dia depois, domingo, nos encontramos com Mary em sua casa com outros amigos e pessoas interessantes para um papo animado. O clima de expectativa era geral: meus pais chegaram em nossa casa semanas antes para nos ajudar com os preparativos e nos cuidados com Noa, nosso mais velho de 1 ano e  8 meses; Mary me ligava toda manhã para saber como eu estava; bom, eu podia entrar em trabalho de parto a qualquer momento e fomos nos despedindo da gravidez com serenidade. Eu tive a oportunidade luminosa de decidir com consciência, responsabilidade e apoio de todos os lados a melhor forma para o nascimento da minha filha. Meu único receio e não propriamente medo, era, por ventura, precisar ir para o hospital e passei a trabalhar isso na prática durante toda a gravidez a partir de um conselho de Anne, profa. de yoga, que me disse que recomendava sempre que as mulheres pudessem mapear seus medos durante a gravidez e pontuassem o que podiam fazer para solucionar esses problemas.
Organizamos toda a casa, onde ficava cada coisa pro dia do parto, quem ficava com o neném mais velho, quem ficava comigo, se tiver que ir pro hospital, onde ir, o que fazer, etc, enfim, toda a estrutura e o que fosse possível fazer e até onde eu me limitava, para que no dia eu não me preocupasse com nada, só focasse no meu corpo e na chegada de Nina.
Chegamos da casa de Mary  naquele domingo às 9 da noite. A meia-noite liguei para ela e disse que sentia umas contrações mas não tinha certeza se já era mesmo o trabalho de parto, poucos minutos depois pedi para Haki, meu esposo, ligar pra ela e confirmar que eu estava em trabalho de parto. Não demorou muito e Mary chegou com sua amiga parteira Marylanda e Ula, sua amiga antropóloga que investiga o parto e assistiria pela primeira vez um parto domiciliar. Quando elas chegaram, eu estava ninando meu mais velho que já parecia pressentir o que estava acontecendo pois não conseguia voltar a dormir. Combinamos previamente que meus pais e Noa não ficariam em casa na hora do parto, nenhum dos três agüentaria tanta emoção. Mary sugeriu que era melhor ele passear com meus pais na praia e se distrair naquele momento.
Mary cuidou para deixar a casa com a atmosfera de ritual, aromatizou os cômodos com incenso e chás e nosso quarto ficou na penumbra, iluminado em alguns cantos com velas.
Eu fui para o quarto e esqueci do mundo para me concentrar em Nina - eu não tinha nada mais com que me preocupar: Noa estava seguro, parteira estava em casa, família por perto...A contrações começaram a se intensificar mais e mais, me fazendo me espremer e me contorcer de dor algumas vezes, as mãos milagrosas das parteiras aliviavam muito, elas iam nos pontos certeiros para dissipar a dor. Senti uma mistura violenta de todas as sensações possíveis, sentimentos de agonia, raiva, alegria imensa, tristeza, ansiedade, cada vez que sentia tudo isso vomitava. Lembro que ás vezes eu tinha um sorriso involuntário nos lábios e outra hora queria chorar muito...
Do nosso quarto tem uma janela onde se avista o mar e Salvador ao fundo, Mary me levou até lá e me disse algo mais ou menos assim “respira. olha o mar. que noite bonita. fica tranqüila que yemanjá tá com você”. E lá vou eu, andando pra um lado e pro outro do quarto, me abaixava com um travesseiro durante as contrações, chamava inúmeras vezes Haki para me abraçar. A certa altura, falei pra Mary que precisava tomar um banho quente, ela aproveitou também e me deu um banho de chá de várias ervas e me disse com os olhos brilhando radiante que elas achavam que com mais três ou quatro contrações, Nina nasceria. Eu estava incrédula, pra mim ainda enfrentaria muitas horas ainda de contrações e achei que Mary falou aquilo pra me animar – mas dito e certo, quando saí do chuveiro já estava em franco período expulsivo, me abaixei ao lado da cama de joelhos e comecei a gritar muito, quando eu duvidei se aguentaria mesmo, Nina já estava nascendo, eu apoiei meus braços em Haki e fiquei na ponta dos pés, Mary e Marilanda me abaixaram quando o corpo estava saindo. Mary depois me contou que tinha receio de o cordão umbilical se romper bruscamente na saída de Nina se eu tivesse ficado em pé todo o expulsivo. Depois que ela nasceu vieram as contrações para expulsar a placenta. Mary deu a tesoura para Haki cortar o cordão e ficamos todos bobos olhando para aquele serzinho, que nasceu com vontade de mamar. Ela nasceu às 3 da madrugada, com 3, 400kg, 48 cm.
É um alívio parir, sinceramente. Depois de todos os meses aguardando o tão esperado parto, principalmente nos últimos meses que aumentam os incômodos comuns da gravidez. Meu alívio maior foi ver que tudo ocorreu bem, que eu e ela estávamos bem fortes, saudáveis. Depois disso todomundo foi dormir. Acordamos numa manhã gloriosa e Mary conduziu o ritual para enterrar a placenta no jardim, com ela está plantamos uma jasmim branca.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Saber de parteira

Para vocês conhecerem um pouco mais do trabalho dela, aqui está a capa de um trabalho coordenado por Mary Galvão.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Parto de Paulinha, nascimento de Pedro









Por Mary Galvão

Relato do parto de Paulinha, em Salvador, ocorrido em 19/07/2011.

Paulinha, o relato do seu parto foi acidentalmente removido do blog, hoje estamos publicando-o novamente!

Antes de dormir (já que o sono não pode chegar num corpo banhado de "adrenalina de felicidade") resolvo relatar o parto para não perder nenhum detalhe por falha de memória.

Hoje tinha uma visita programada na casa de Paulinha (39 semanas de acordo USG) para conehcer seus pais e esclarecer para eles a simplicidade de um parto domiciliar, já que os mesmos estavam resitentes a decisão da Paulinha de parir seu filho Pedro em casa.
Chegamos à casa dela (eu e minha assistente, Paula Fernanda), exatamente as 16:10", a encontramos na sacada da casa em risos e abanando a mão em sinal de cumprimento cordial de baos vindas. Subimos as escadas até o 1o.andar, onde fica sua casa limpa, bem arrumada e muito bem decorada. Cumprimentamos e perguntamos quem estava em casa e ela nos informou, que estava sozinha porque Diu (seu esposo) estava providenciando as últimas coisas da lista de materiais para o parto, que havia lhe enviado dias antes. Lucas, o filho de 7 anos, estava na escola.

Aí, lhe dirigi a 2a.pergunta em tom de brincadeira: "E aí, este bebê nasce hoje ou ainda não é chegada a hora?". Ela calmamente respondeu: "Ah Mary, acho que ele nasce hoje mesmo". Ouvi a resposta e comentei: "Então é para hoje e não dia 20 como você havia estimado?". Ela nos respondeu calmamente, que, se não nascesse antes de meia-noite seria mesmo no dia seguinte, 20/07. Paulinha, a parturiente, questionou a outra enfermeira (também Paulinha), se o bebê nasceria mesmo. Paulinha (enfermeira), me olhando um pouco assustada comentou: "Será mesmo Professora que este bebê quer chegar hoje?". Com o olhar de parteira respondi ao tempo em que observava o comportamento de Paulinha, característico de parturiente: caminhando de um lado para outro ela alisava o abdome e mudava seu semblante de sorridente para sério. Mas mantendo muita calma.

Cinco minutos após a nossa chegada ela nos convidou a tocar seu ventre. Contraído, muito contraído. Então percebi que se tratava de contrações de boa intensidade. Questionei então desde que horas aquelas contrações aconteciam e ela me respondeu que "desde umas duas horas da tarde". Que tinha começado bem fraquinho pela manhã e logo depois do almoço foram ficando cada vez mais perto e mais dolorosas. Questionei por que ela estava tão calma. Ela retrucou que "já sabia que ia ser assim mesmo...". Conversamos meia hora, mais ou menos, enquanto eu observava seu comportamento. Sugerimos uma avaliação mais criteriosa, no quarto e ela achou legal ouvir o coração de Pedro e avaliar as contrações com tempo cronometrado. Fizemos isso e ela então pediu mais informações. Achamos interessante fazer o exame de toque para proceder uma avaliação mais detalhada.

Encontramos dados muito interessantes: contrações de 10 em 10 minutos com duração de 30 segundos, colo maduro, central, pérvio para 5 cm. Então, trata-se de franco trabalho de parto. Resolvemos pedir a Diu, o marido que já retornava para casa, para ir apanhar o material necessário (minha pasta de parteira). Paulinha prontamente sugeriu que fossem à UNEB, onde estava todo material, e se prontificou a ir junto. Saíram de casa por volta das 17 horas e retornaram as 19 hora,s com a pasta. Só fiquei triste porque faltou a balança e as ervas que gosto de utilizar para atrair os bons fluidos das parteirinhas e rezadeiras da floresta.

Nestas 2 horas em que ficamos sozinhas observei que Paulinha mudava várias vezes de posição, embora continuasse muito calma! O telefone da casa tocou e era sua mãe pedindo informações a respeito de um cliente de Paulinha. Ela orientou detalhadamente o caso, sem deixar sua mãe perceber que ela estava em TP... A mãe tornou a telefonar mais duas vezes, até que Paulinha lhe disse que eu estava em sua casa e que ela ia ter que desligar o telefone por alguns minuto, para me dar atenção. Voltou a sentar-se no sofá e falou comigo que não gostaria de ter sua mãe perto dela nesse hora porque a mãe era muito diferente dela e muito preocupada.

Ainda no controle da situação, ligou várias vezes para seu marido e em seguida para uma amiga pedindo uma câmera fotográfica emprestada... Por volta das 18 horas chegou sua mãe, gritando embaixo. Ela saiu na varanda, jogou a chave da casa e me falou baixinho: "É minha mãe, mas ela não vai demorar e não deixe ela perceber que estou já com contração...". A mãe dela é bem jovem e muito simpática. Após a apresentação, conversei com ela sobre os detalhes de um parto domiciliar e afirmei que em casa o parto é mais seguro que no hospital e apresentei as justificativas para minha opinião. Observei que ela confiou em minhas informações e quando percebi que ela ia demorar me preocupei porque ao invés de ficar dando atenção à mãe de Paulinha queria estar com ela no quarto. Então dei um jeitinho (coisa de parteira) de mandar a mãe se retirar com a desculpa de que queria ir assistir a novela e fui me afastando da sala. Ela ficou sem graça e foi embora. Eu ainda lhe disse: " Paulinha ainda ganha bebê esta semana viu?". Ela então retrucou para mim que tudo bem, pois agora estava mais tranquila com as informações recebidas e que não queria assistir ao parto.

Ela foi embora por volta das 18:15, aí percebi que estava na hora de começar a anotar a dinâmica uterina. Foi quando constatei que tratava-se de fase ativa do TP. Paulinha já estava com as contrações a cada 4 minutos, com 40 segundos de duração e com ritmo e intensidade progredindo francamente.

Perguntei a ela se estava com sede ou fome. Ela então respondeu que sim. Sugeri um caldo de legumes e ela topou. Neste momento ela levantou-se do sofá da sala de TV e foi até a cozinha. Separou os legumes e me entregou. Sentei-me a seu lado (no sofá da sala) e comecei a descascar, enquanto observava seu jeitinho tranquilo e antenado a tudo a sua volta controlando cada detalhe da dinâmica da casa.
Paula Fernanda, Diu e o filho Lucas retornaram por volta das 19:15. O parceiro entrou em casa muito feliz chamando por Pedro e brincando perguntava se já tinha nascido. Se aproximou da esposa e lhe acariciou com muito afeto. Fui à cozinha olhar a panela e depois de 10 minutos por lá voltei e convidei Paulinha a vir até a cozinha para tomar seu caldo de legumes junto com o marido e e filho, visando incluí-los no processo. Ela sentou-se na mesa com a família, mas logo retorceu-se na cadeira e informou que não queria comer. Em seguida levantou-se e foi para o seu quarto, deitou-se na cama e afirmou que estava "doendo muito". Nós três (eu. Paulinha enfermeira e o marido) nos aproximamos e perguntamos se ela queria ir para água. Ela disse que ainda não.

Durante mais ou menos 20 minutos observei que Paulinha explicava tudo para Lucas e lhe chamava para perto ao tempo em que começava a retorcer-se e mudar de posição, demonstrando muita dor. Paula Fernanda (enfermeira) entrou em cena, sugerindo massagens. Começou a fazer massagem na região lombo-sacra e vi que Paulinha se ajoelhou na sala em busca de alivio de uma contração poderosa.

A partir desta hora (20:15), ela mudou seu comportamento totalmente, inquieta, gemente, ela se entregou totalmente ao processo e saiu do controle de seus papéis de mãe, esposa, dona de casa. Passei a observá-la mais de perto, tempo em que comecei a controlar os BCFs com mais frequência (30/30 min). Na posição em que ela adotava a gente se agachava para ouvir o bebê.
Ai Paula Fernanda voltou a perguntar se ela queria ir para a água. Paulinha, deitada de quatro, na sala, totalmente mudada e entregue respondeu que queria. Aquecemos mais água e a levamos para a BACIA GRANDE, MUITO GRANDE. Lá no banheiro passamos uma hora lhe massageando a região lombar e a cervical, lhe dirigindo palavras de apoio e força. Continuamos aquecendo água no fogo, jogando em seu corpo e ouvindo seus gemidos, numa verdadeira atitude de mamífera ela tomou posse da situação e começou a uivar, gritar e chamar por Pedro.

Por volta das 21 horas ela pediu para sair da água gritando: "Vai nascer, tá nascendo, tá aqui, estou vendo, tá aqui...!" Ajudamos ela a chegar no local que escolheu para dar à luz seu bebê. No quarto, no cantinho forrado antecipadamente por nós. Ali chegando, adotou a posição de quatro e começou a gemer e gritar, chamando o filho várias vezes: "Vem Pedro, vem meu filho...", num mantra forte e determinado. Naturalmente seu filho atendeu seu chamado e despontou na vulva, forte e determinado como a mãe. Vimos que a cabeça de Pedro coroou. Sugerimos ao pai tocar a cabecinha do Pedro e os dois entraram em fase de muita euforia, mas logo se acalmaram, deixando a beleza do sagrado adentrar o ambiente e fazer o grande milagre da vida acontecer.

Às 21:27 Pedro nasceu de parto natural, sem ocitocina, sem corte de períneo, sem nenhuma manobra invasiva, com 2 toques vaginais. Ao nascer ele foi avaliado e obteve Apgar 9, no 1o minuto e 10, no 5o. minuto de vida, mesmo com uma circular de cordão, que foi desfeita sem dificuldade. Paulinha continuou agachada no cantinho, com sua cria agarrada ao corpo, lambendo, chorando e aquecendo com seu calor de pós-parto, enquanto eu pedia ao pai para cortar o cordão em clima de respeito ao momento tão especial. Ela gemeu e queixou-se de cólicas. Observei que eliminava a placenta, liberada em mecanismo de B.Shultzs, em face fetal, espontaneamente. Olhamos para ela, agradecemos sua função nutridora e logo em seguida fomos ao quintal da casa para o destino merecido. Eu, Paula Fernanda e o pai, todos gratificados pela sua generosidade durante os 9 meses em que nutriu e embalou Pedro no ventre da mãe, enterramos a placenta num vaso, onde foi plantada uma muda, escolhida previamente por Paulinha, para simbolizar o nascimento e o crescimento de Pedro, assim como a própria Vida.

O parto, portanto, não necessitou de nenhuma manobra ou procedimento, exceto de belos chamados dos pais, que entoaram para o filho palavras de amor e convite, encorajando-o para a grande travessia entre o ventre e o colo de sua família, tão amorosa e acolhedora.

Cuidamos de secar Pedro ainda no colo de Paulinha, que não se conteve e derramou muitas lágrimas de felicidade. Olhando o filhinho, encantada, murmurava lindas palavras de afeto. O pai chorava e repetia "Esta é uma coisa de Deus não é? Que lindo, que lindo!". Enquanto isso, Lucas, eufórico, entrava e saía do quarto várias vezes demonstrando o encantamento diante da cena simplesmente LINDA com a qual a vida lhe presentou, ver a chegada de seu irmãozinho.

Esta foi mais uma história de amor e ternura que a vida me deu a honra de poder participar. Sou muito grata à vida, ao mestre e a Paulinha por ter me permitido ajudá-la a viver uma experiência tão gloriosa... Quiçá um dia todas as mulheres possam viver o milagre do parto e do nascimento de um filho nesta vibração de amor e plenitude.

Oficina de Natal para Gestantes


Aproventando o período natalino o NUPESV- Núcleo de Pesquisa de Saúde da Mulher da UNEB estará promovendo uma Oficina no dia 02/12/11 às 08:00h na UNEB para sensibilizar as gestantes quanto a importância das cantigas de ninar na relação com seu bebê.  O espaço terá com facilitadora a Enfermeira Obstetra Mary Galvão. Partipação especial da cantora India Pomponet.